“Permita que o amor invada sua casa, coração” –
Cidade Negra, A sombra da maldade
Resuminho antes do textão: passamos de fase na luta da Ocupação Mercado Sul Vive. Abriu-se um período de negociação. Temos a chance de conquistar nosso território. Precisamos de união, força conjunta, trabalho coletivo e muita solidariedade. Cola junto, o apoio agora é FUNDAMENTAL!
Compas de luta, escrevemos esta carta para informar sobre nossa situação atual e também convidar nossa rede apoiadora/lutadora a se aproximar um pouco mais. Pra explicar esta situação complexa de forma simples relataremos nossa situação em alguns tópicos. Faremos outros materiais pra aprofundar sobre os temas, sugerimos que acompanhem em nossas páginas, redes sociais e pessoas.
Chegamos em um momento crucial de nossa luta: após quatro anos e meio de ocupação abriu-se caminho para apresentarmos uma proposta de conquista dos espaços. Para que esta vitória se concretize precisamos de mais esforços do que temos agora. Mesmo em uma conjuntura tão violenta aos movimentos sociais temos um horizonte concreto de avançar em nossos objetivos.
A Ocupação Mercado Sul Vive nasceu do sonho de uma cidade que não é refém da especulação imobiliária. Após décadas lutando para colorir um pedaço de Taguatinga irradiando cultura pelo DF, Brasil e mundo, percebemos que as práticas especuladoras estavam prejudicando todas nossas atividades. Descobrimos que existiam quatorze espaços abandonados, decrépitos, jogados às traças. A gentrificação e especulação imobiliária estava nos expulsando do espaço em nome do lucro, fazendo da cidade viva um cinzento território de muros.
Nossa cultura não vai chorar escondida. Ocupamos os terrenos abandonados e fortalecemos a jornada pelo direito de fazer cultura, morar bem, ter comércio solidário. Buscando o Direito à Cidade tomamos em nossas mãos espaços abandonados que antes eram reservatórios de doenças, degradação, violência urbana. Descobrimos o óbvio: a lei hoje não está em favor dos de baixo, de quem luta. Ela ainda serve pra proteger a propriedade privada e individual ao invés do direito social e coletivo dos espaços. Mas isso vai mudar.
A Ocupação Mercado Sul Vive reabilitou socialmente aqueles espaços abandonados, inclusive valorizando o valor de mercado dos imóveis. Seja pelas reformas estruturais que fizemos nas lojas, seja por trazermos mais circulação e eventos culturais pra região, seja por temos limpado eles afastando os riscos de doença que se espalhavam pela vizinhança. Fizemos com que o Mercado Sul ganhasse ainda mais vida do que já tinha antes. A ocupação, tão mal falada por gente conservadora, conquistou benefícios e melhorias para o bairro e a cidade. A Ocupa-MSV não é rancorosa, queremos um mundo justo até pra quem deseja nosso mal.
Desde o começo da ocupação buscamos um caminho de solução positiva de nossa luta: seja com o GDF desapropriando aquela área como zona de interesse social/cultural; seja a justiça reconhecendo que a função social da propriedade não estava sendo efetivada; seja por meio de um acordo para que aquelas lojas passem a ser de propriedade da comunidade, em associação. Nunca quisemos ‘viver de graça como vagabundos que usam espaços dos outros para fazer balburdia’. Sempre quisemos realizar o pleno Direito à Cidade.
O desenrolar do processo jurídico teve seus diferentes descaminhos. O GDF até o presente momento não quis assumir a responsabilidade de desapropriar o espaço, reservando-se a pareceres técnicos; a justiça, apesar de evidentes provas de que os lotes abandonados não cumpriam função social, não tem mecanismos claros regulamentados pra realizar punições em tempo, o que dificulta sua própria atuação. A justiça deu-nos, porém, um prazo para resolver a situação propondo uma solução nossa, negociada, em nossos termos.
Então temos em mãos a chance de constituirmos nós mesmos uma proposta de acordo para que a Ocupa-MSV avance enquanto espaço comunitário. Para isso precisaremos de uma ampla mobilização de todas e todos que nos apoiam. Não somos ricos, não somos especuladores, não queremos apropriar nenhum espaço para fins individualistas. Queremos que esta luta coletiva reflita coletivamente em nossas atividades, desenvolvendo a cultura e justiça social para todos e todas. Precisamos dar as mãos em apoio mútuo pela conquista deste território. Seja por trabalho, por doações, por mobilização, por mutirão. Nós por nós, pelo bem coletivo.
Por isso convidamos todos e todas a somarem conosco. Abrimos um novo período em nossa luta: o de conquistarmos ainda mais o espaço que agora ocupamos para seguir seguir produzindo, construindo, vivendo, trocando, florindo. Uma conquista coletiva feita a muitas mãos e mediada por nossas ações. Precisamos de todos e todas neste importante momento de luta.
Em busca de um mundo novo,
começando pela nossa vizinhança
fazendo cultura com nossa casa-coração.
Pelo direito à cidade, contra a especulação,
Ainda viro esse mundo em festa, trabalho e pão
Ocupação Mercado Sul Vive – Taguatinga-DF, Agosto de 2019